
Declarações de Guerra (2019), Editora Guerra & Paz
(Texto da contracapa)
Relatos de portugueses que lutaram pela pátria – e que a pátria esqueceu.
Sem tabus, de coração aberto, têm a palavra os combatentes da Guerra Colonial. Estas são as histórias em carne viva de soldados portugueses: o que viram, sentiram e pensaram – e os estilhaços físicos e psicológicos de uma juventude perdida que ainda hoje os atormentam.
De 1961 a 1974, Portugal travou uma guerra em três frentes: Angola, Guiné-Bissau e Moçambique. Do lado português, quase um milhão de mobilizados, perto de dez mil mortos, dezenas de milhares de mutilados e um número indeterminado de stressados de guerra.
Este livro reúne 48 relatos emocionantes, que testemunham diferentes experiências de combate. Do militar inadaptado ao que se guia por um escrupuloso sentido do dever; do que lamenta não ter desertado ao que tem gosto em matar. Uns sentiam empatia pelo inimigo, outros moviam-se pelo desejo de aniquilação e extermínio, numa guerra que as mudanças no mundo tinham tornado obsoleta antes mesmo de começar.

O País Fantasma (2015), Publicações Dom Quixote
(Texto da contracapa)
O alferes Capelo está a cumprir o serviço militar em Angola quando se dá o massacre de centenas de brancos em povoações isoladas do Norte; é por isso chamado a participar na primeira resposta militar contra os rebeldes e acaba por fazer duas comissões na Guerra Colonial e já não regressar à metrópole, casando-se e tornando-se proprietário de plantações de café. Na mesma altura, Mateus, funcionário público e amante da poesia e do xadrez, é iniciado em Moçâmedes nas relações de poder entre colonos e colonizados, assistindo à prisão e tortura de rebeldes e guerrilheiros; manda vir a família e instala-se na Gabela, cruzando-se com Capelo, já desmobilizado, ambos desconhecendo que assistem aos últimos estertores do império. Na verdade, o 25 de Abril muda tudo: o Governo de Lisboa prepara a independência das Colónias e, na Gabela, as atenções dividem-se entre o MPLA e a FNLA, a que pertence a filha mais velha de Mateus, que namora um oportunista que se faz passar por herói da independência. Quando rebenta a guerra civil, a população branca aflui aos portos e aeroportos e aproveita-se o caos para fazer ajustes de contas pessoais. Mateus e a família são agora refugiados que aguardam embarque na maior ponte aérea civil alguma vez realizada entre dois continentes e chegam a Lisboa com milhares de outros desalojados em pleno PREC.
O País Fantasma
é um romance sobre o fim do período colonial, com descrições impressionantes da violência recíproca que moldou Angola antes, durante e depois da guerra, e o relato de como muitas famílias testemunharam, da pior maneira, o fim de um ciclo que durou mais de quinhentos anos.

Gare do Oriente (2012), Publicações Dom Quixote
(Texto da contracapa)
Cinco pessoas, vindas de diferentes pontos da cidade, convergem para o mesmo comboio que parte da Gare do Oriente, a caminho do subúrbio. Lígia, professora, repensa os dramas familiares que a transformaram. Gabriel, esquizofrénico, rememora a figura tirânica do pai e interpreta delirantemente o que se passa à sua volta. Rui, vigilante de um parque de estacionamento, descreve a estagnação e o entorpecimento que tem sido a sua existência. Natália, funcionária de um ministério, dedica à sogra um ódio de estimação. Aurélio, advogado em processo de divórcio, rumina vinganças contra a mulher. Todos estão sozinhos com os seus pensamentos, que dificilmente podem ser partilhados ou compreendidos; uns vivem presos à memória do passado, outros criaram dilemas que lhes limitam o presente.
Mais eis que algo faz despertar nelas uma consciência comum: o ataque terrorista ocorrido nessa manhã numa estação estrangeira e cujas imagens passam continuamente na televisão. Poderá esta ameaça à escala global mudar alguma coisa no seu íntimo? Será o mal que vem de fora uma expressão do mal que habita dentro deles?
Depois de A Vida Verdadeira, Vasco Luís Curado volta à ficção com uma obra apaixonante sobre as angústias da alma humana nas sociedades contemporâneas. Possuindo uma capacidade notável para a criação de vozes, o autor foi finalista do Prémio Leya com o presente romance.

A Vida Verdadeira (2010), Publicações Dom Quixote
(Texto da contracapa)
A cidade foi crescendo para as margens e os blocos de vidro e betão ceifaram as quintas e moradias dos arrabaldes. A casa de Vergílio – um verdadeiro casulo cheio de memórias – é a única que resiste, mas está, assim mesmo, condenada à extinção.
Enquanto recebe a visita do agente imobiliário que se ocupará da venda da propriedade, este homem adulto e sozinho recorda o que foi a sua vida nesse refúgio – a superprotecção das mulheres (mãe, avó e bisavó, vistas como bonecas russas), a magalomania do pai, a simbiose perfeita com a irmã, as atitudes intempestivas e hilariantes do tio mutilado na guerra colonial, a loucura do professor de quem recebia estranhas lições particulares. Nenhuma das suas figuras de referência o preparou para a emancipação – todas, pelo contrário, o incompatibilizaram para a vida comum. E, porém, Vergílio não está só no seu destino, porque a recapitulação dos dramas vividos pela sua família geração após geração é, afinal, o eco do drama vivido colectivo da Humanidade – e, ao mesmo tempo, o abrigo que substitui a casa que vai abandonar.
Numa linguagem extraordinariamente rica e cuidada, e com uma galeria de personagens que oscila entre o trágico, o cómico e o absurdo, Vasco Luís Curado oferece-nos um romance a que não é possível ficarmos indiferentes, ou não se tratasse da verdadeira vida.

O Senhor Ambíguo (2001), Editorial Escritor
(Texto da contracapa)
A nossa vocação não é acordar todos os dias de um sono letárgico, comer, trabalhar, repetir os mil gestos do quotidiano, dia após dia, ano após ano. A nossa vocação é ser uma lenda, persistir na memória dos outros como ser lendário, um ser ressuscitado em pensamento. A vida que somos obrigados a viver é menos vida do que essa recordação de um ser persistindo na evocação feita pelas outros, essa ressurreição na memória dos outros, que confere uma vida mais autêntica do que esta condição corruptível e moribunda que é a nossa. Todas as pessoas aspiram a essa vida verdadeira, a serem uma lenda, sem ter o desgaste de um corpo quotidiano.

Sonho, Delírio e Linguagem (2000), Editora Fim de Século
Ensaio baseado na tese de mestrado em Psicopatologia e Psicologia Clínica (ISPA). Parágrafos finais da Introdução:
O primeiro capítulo, de carácter introdutório, trata da representação psíquica, que será confrontada com a pulsão, o afecto, a alucinação negativa, a simbolização e, pelas correspondências entre representações de coisa e representações de palavra, com a linguagem. O segundo e terceiro capítulos debruçam-se sobre condições mentais regressivas, o sonho e o delírio repectivamente, e o modo como restauram um funcionamento psíquico mais primitivo de onde deriva, evolutivamente, a linguagem verbal. O quarto capítulo investiga a linguagem, ou melhor, a vida natural da linguagem, e nele veremos como as metáforas vivas, originais, próximas do afecto-acção, se convertem em metáforas extintas, que são pontes para a discursividade verbal abstracta.
Assim, a partir das palavras quisemos recuperar as imagens que estiveram na sua origem e estão ainda no seu cerne. Apesar da infinidade virtual de significados e transformações inovadoras, num sentido progressivo, as palavras também nos conduzem, num sentido regressivo, para além delas próprias, às imagens alucinatórias e às experiências sensoriais cuja marca transportam. Quisemos percorrer esse caminho regressivo, não só porque ele explica em parte o movimento progressivo da linguagem verbal como também permite reencontrar algo da nossa natureza arcaica, íntima e essencial, já não deformado pelo verbo, o qual tanto ilumina como ofusca na sua própria luz.
Para nós, muitas palavras actuais serão caixões que encerram imagens e significados que queremos exumar. Isto não significa que a linguagem, tal como a queremos estudar, seja uma linguagem morta. Apenas vamos realçar aquilo que se extingue no desenvolvimento da linguagem, sem no entanto descurar aquilo que é criado, descoberto e renovado nesse mesmo desenvolvimento, porque também há uma vida actual da linguagem.
Assim, o nosso trabalho só em parte é comparável ao dos ressurreicionistas, ladrões que abriam os túmulos para roubar as jóias dos mortos. As jóias que procuramos são as metáforas vivas que o uso generalizado e o tempo encerraram em conceitos-caixões cada vez mais abstractos. Será que desse trabalho sinistro de saqueadores de túmulos resultará a recuperação (a ressurreição) do que outrora foi beleza viva?